Como se constituiu no Brasil a rede de cidades?

sábado, 23 de agosto de 2008

Clézia Aquino de Braga.




Segundo Deffontaine a constituição no Brasil da rede de cidades apresentou hostilidade ao agrupamento por parte da população nativa (índios), que não aceitavam se tornar escravos como também, por parte dos detentores do poder os latifundiários, que temiam ficar sem mão-de-obra.
As reduções que eram missões religiosas dotadas de um plano fossem representadas por Jesuítas, Salesianos ou Franciscanos tinha como finalidades catequizar os índios, esse evento na época não apresentou o êxito porque as influências dos fazendeiros e suas atitudes de hostilidade levaram ao fim das reduções.
Do ponto de vista dos aglomerados criados nas reduções a distribuição dos objetos acontecia da seguinte forma na paisagem: 1) A igreja era elemento fundamental na organização espacial deu origem ao agrupamento. 2) Na frente da igreja existia um pátio largo pra os eventos religiosos. 3) Sua geometria era retangular. 4) Os índios ficavam localizados ao lado da igreja.
As reduções foram estabelecidas em países da América do Sul como o (Brasil e Paraguai), porém, na realidade brasileira a idéia e a presença da aldeia não se efetivaram como em outras regiões; o elemento aldeia não deu certo no processo de produção do espaço em função da resistência dos atores da economia brasileira na época.
Na formação do território brasileiro a distribuição da população se fez sentir pelo eixo do litoral por vários fatores entre eles: A falta de conhecimento das terras brasileiras, facilidade em escoamento da produção para o mercado europeu. Esses fatores conjugados ao contexto histórico propiciaram as aglomerações de origem militar, ou seja, aparecem cidades de defesa como é o caso de Fortaleza, Belém entre outras. Este fato não aconteceu com frequência no interior brasileiro especifícamente, o Sertão.
A marcha de povoamento segue na sua temporalidade e consequentemente, os séculos XVII, XVIII; vão contribuir de maneira significativa na formação dos aglomerados humanos. A mineração do ouro no século XVII criou as cidades mineiras através do processo de circulação de pessoas e produtos. Mas essa atividade desempenhada pelos mineiros quase nômades não conduziu um processo de escoamento capaz de fixar habitantes nesse lugar.
O ouro começa a produzir o espaço através do trabalho mineiro, porém, provocou uma ativa circulação: transporte dos metais preciosos preciosos para costa e o transporte para o interior dos produtos necessários aos mineiros, e essa criação foi por si própria criadora de aglomerações; essas cidades
nascidas da estrada formam uma nova categoria, mais numerosa, mais espalhada e também mais estável do que as cidades nascidas das minas.
As estradas exerceram um papel fundamental no surgimento dos aglomerados humanos, porém, os homens com suas necessidades de comercializar se tornavam viajantes e para estabelecer uma relação de trocas comercializavam seus produtos um exemplo disso, era os mascates. A viagem seguia na maioria das vezes caminhos tortuosos em função do relevo acidentado em áreas como a serra do mar entre outras. Nesse contexto histórico a figura do tropeiro vai ser de grande importância na formação dos agrupamentos pois, o mesmo apanhava os objetos que caíam dos animais como ferraduras, pregos e outros objetos de valor nas viagens, e nos pontos de pousos, que era parada obrigatória para o pagamento de pedágio se estabelecia o comércio dos produtos que os tropeiros apanhavam pelo caminho e vendia a preços caros.
A estrada Real era o principal eixo de escoamento de produtos e pessoas, essa via se comunicava com o Estado de Goiás. Aparece como aglomerados as áreas de Mogi Mirim, Pouso Alegre ou ainda Passa um, Passa dois, Passa Três, Passa quatro,Passa vinte,etc. Muitas pessoas na época criavam estradas clandestinas (pousos), para não pagar os impostos que eram altos. Essas atitudes de parte da sociedade envolvida também, deram origem as cidades,
As cidades da navegação foram fundamentais na configuração da rede urbana brasileira. A Amazônia no seu primeiro momento de povoamento utilizou-se dos mais de 1000 km de hidrovia onde os portos de lenha favorecia a criação de aglomerados humanos. Com o desenvolvimento dos motores essas cidades ficaram mortas exceto as áreas mais longínquas que continuaram a ser abastecidas pelos portos de lenhas enquanto, as áreas portuárias de grande porte se modernizaram fato, que possibilitou a estagnação de algumas cidades.
O rio São Francisco conhecido como rio da unidade nacional corta duas importantes regiões do país o Nordeste e o Sudeste. Na região Nordeste o processo de ocupação das atividades econômicas em especial, a pecuária extensiva, ocorreu de forma conflituosa entre índios, fazendeiros e bandeirantes conhecido como conflitos Bárbaros. O processo de interiorização da pecuária no Sertão do Nordeste estabeleceu novas atividades e consequentemente, o surgimento de aglomerados humanos.
As cidades de origem férrea apresentaram uma maior articulação na formação das redes de cidades com um melhor escoamento da produção, essas vias férreas, exerciam funções ligando o interior as áreas portuárias. Deffontaine chama a atenção do fato de que os aglomerados humanos localizados em pontos terminais estabelecia uma maior dinâmica no processo de articulação um exemplo, disso, é Bauru no estado de São Paulo. Essas vias férreas fomentaram uma maior dinâmica entre os fixos e os fluxos.
Quanto a evolução do Patrimônio podemos afirmar que os territórios que hoje pertence as cidades foram na sua maioria doados pelos proprietários de terras que justificam seus atos presenteando a igreja ou a invocações dos santos, isto, explica porque muitas cidades apresentam nomes religiosos.
Os proprietários de terras quando faziam suas doações procuravam os melhores terrenos em torno da igreja e construíam seu palacetes que eram ocupados nos finais de semana onde disputavam com outros fazendeiros quem construía o melhor palacete.
Um elemento fixo muito importante era a praça, pois, está apresentava uma geometria retangular para numa dada eventualidade ser fácil de comercialização. Além do mais um espaço de tamanho grande era vantajoso para as festas religiosas e permitia de uma certa forma as atividades comerciais,
Na criação dessas cidades alguns profissionais se destacavam para a existência das mesmas exemplo: Médico, Tabelião e o Farmacêutico. Esses recebiam até incentivos como terrenos para se estabelecerem nesses aglomerados.
Como elementos atrativos fixos na construção de uma cidade podemos ainda citar o banco, cemitério, um jornal e um cinema. Portanto, a cidade no Brasil nasceu de uma necessidade de romper a monotonia da solidão. A aglomeração aparece como uma reação contra o isolamento.
A crise do latifúndio que ocorreu num determinado momento histórico gerou o processo de fragmentação do território em lotes ou sítios, a organização das novas zonas e derrubada em propriedades relativamente pequenas são favoráveis às cidades.
Mas afinal de contas o que é rede? Chamamos de rede o processo de integração entre o fixo e o fluxo o primeiro é o próprio espaço geográfico com suas atividades econômicas (estrutura), onde os objetos como igrejas, escolas, hospitais entre outros são explicativos na organização da história do urbano. E os fluxos na dinâmica das ações ou seja, nas relações de produção, nas relações de vizinhança e que esses fluxos materiais e imateriais, vão estabelecer um processo de articulação entre as cidades e o mundo.No estudo da evolução das cidades brasileiras podemos evidenciar que a maioria dessas cidades não surgiram de uma função urbana e sim das necessidades da própria sociedade numa dada temporalidade. Isto, justifica o grande número de cidades mortas num país de formação recente.

2 Comments:

Prof. Tiago Marinho said...

Olá Professora Clezia aqui é seu amigo o Prof. Tiago Marinho, parabéns pelo blog. Meu blog é Proftiagomarinho.blogspot.com

PollyQueiroz said...

Clézinha! Seu blog tá um luxo!

Parabéns!

 
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